Neste Dia da Consciência Negra, destacamos as histórias de André Rebouças, Enedina Alves Marques e Milton Santos. Suas trajetórias foram marcadas pela inovação e por contribuições significativas para o Brasil, nas áreas de engenharia, urbanismo e geografia.
André Rebouças: o pioneiro da engenharia brasileira
Nascido em 1838, em Cachoeira, na Bahia, André Rebouças foi uma das figuras mais importantes da história da engenharia no Brasil. Mudou-se ainda jovem para o Rio de Janeiro, onde se formou em Ciências Físicas e Matemáticas em 1859, tornando-se o primeiro engenheiro negro a se graduar em uma escola militar no Brasil.
Com uma carreira marcada por projetos inovadores e relevantes, André deixou um legado que influenciou tanto a infraestrutura nacional quanto a luta pela abolição da escravidão.
Destaques de sua carreira incluem:
- Primeira ferrovia do Brasil: como engenheiro-chefe, foi responsável pela construção da linha que ligava o Rio de Janeiro a Petrópolis, modernizando o transporte da época.
- Abastecimento de água no Rio de Janeiro: Rebouças ganhou notoriedade ao solucionar o problema de abastecimento de água na cidade, captando o recurso de mananciais localizados fora do perímetro urbano.
- Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá: juntamente com seu irmão Antônio, assinou o projeto dessa ferrovia, uma obra de engenharia desafiadora e audaciosa que conecta Curitiba ao porto de Paranaguá. Até hoje, essa ferrovia é reconhecida por sua complexidade e impacto no desenvolvimento da região.
Além de sua atuação como engenheiro, André Rebouças foi um abolicionista. Ele integrou a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, ao lado de Machado de Assis, José do Patrocínio e Joaquim Nabuco, defendendo a liberdade e a igualdade.
Apesar de suas conquistas, Rebouças enfrentou preconceito racial e político. Após a Proclamação da República, exilou-se na Europa, onde viveu seus últimos anos. Seu legado, no entanto, transcende o tempo, sendo lembrado como um pioneiro na engenharia e um defensor dos direitos humanos. André Rebouças é, até hoje, um símbolo de excelência, resistência e luta pela justiça social.
Enedina Alves Marques: a primeira engenheira negra do Brasil
Nascida no Paraná, Enedina Alves Marques foi a primeira mulher negra a se formar em engenharia no Brasil, em 1945, pela Universidade Federal do Paraná. Sua trajetória foi marcada por desafios e conquistas notáveis, rompendo diversas barreiras.
Desde cedo, Enedina demonstrou determinação e dedicação. Sua mãe trabalhava na casa de um delegado que financiou seus estudos em escolas de qualidade, onde acompanhava a filha do patrão. Após concluir o ensino médio, ela lecionou como professora no interior do Paraná antes de retornar a Curitiba para cursar o “Madureza”, um curso voltado para jovens e adultos, como parte de sua preparação para ingressar na universidade.
Enedina iniciou seus estudos em engenharia no Ginásio Paranaense e, posteriormente, ingressou na Universidade Federal do Paraná, formando-se em um momento histórico para a engenharia brasileira.
Destaques de sua carreira incluem:
- Plano Hidrelétrico do Paraná: atuou no Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica, participando do aproveitamento das águas dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçu.
- Usina Capivari-Cachoeira: considerada sua maior obra, tornou-se um marco no desenvolvimento energético do estado.
- Contribuições na arquitetura pública: projetos como o Colégio Estadual do Paraná e a Casa do Estudante Universitário de Curitiba são parte de seu legado.
Enedina recebeu reconhecimento oficial do governo do Paraná, consolidando sua relevância na história do estado e do Brasil. Hoje, ela é uma inspiração para pessoas que enfrentam desafios similares, mostrando que é possível conquistar espaço em áreas ainda marcadas por desigualdades.
Milton Santos: o maior geógrafo brasileiro
Nascido em 1926, na Bahia, Milton Santos é reconhecido como o maior geógrafo brasileiro, cuja obra transcendeu a geografia e contribuiu significativamente para o planejamento urbano, a sociologia e a economia. Sua trajetória acadêmica e profissional foi marcada pela inovação e pelo compromisso com a justiça social, consolidando-o como uma referência mundial em estudos urbanos.
Após se formar em Direito, Milton optou por seguir sua paixão pela Geografia. Em 1956, participou do Congresso Internacional de Geografia, no Rio de Janeiro, que o impulsionou a continuar seus estudos na França, na Universidade de Estrasburgo. Lá, aprofundou-se no planejamento urbano e nas dinâmicas das cidades, conhecimentos que aplicaria ao longo de sua carreira.
Principais contribuições
- Fundação do Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais: na Universidade da Bahia, Milton Santos criou um espaço voltado à pesquisa sobre o território brasileiro, destacando as especificidades das regiões urbanas e rurais.
- Diretor de Pesquisa na ONU: durante seu exílio de 13 anos na ditadura militar, Milton trabalhou na Venezuela como diretor de pesquisa e planejamento de urbanização da ONU. Nesse período, observou e analisou os processos de urbanização em países pouco desenvolvidos, produzindo estudos que influenciaram políticas públicas.
- Contribuição ao urbanismo: seus estudos trouxeram novos entendimentos sobre as desigualdades urbanas, explorando como o espaço das cidades reflete as dinâmicas econômicas e sociais. Ele defendeu a necessidade de um urbanismo inclusivo, que priorize as pessoas.
Milton Santos foi o único brasileiro e latino-americano a receber o prêmio Vautrin Lud, considerado o “Nobel da Geografia”, em 1994. Essa conquista coroou sua carreira e destacou a importância de suas pesquisas no cenário global.
Após o exílio, Milton voltou ao Brasil e assumiu cargos de destaque na academia. Foi professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e, posteriormente, titular de Geografia na mesma universidade. Seu impacto é duradouro, inspirando gerações de pesquisadores a refletirem sobre a relação entre espaço, sociedade e economia.
Milton Santos deixou um legado que vai além da geografia. Ele nos ensina a olhar para as cidades e para o mundo com um olhar crítico, destacando a importância de um planejamento urbano mais humano e igualitário.
Você já os conhecia?