Com 172 metros de altura e 46 andares, o edifício Platina 220 será entregue na próxima segunda-feira (5) no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo. O prédio, que conta com apartamentos residenciais, hotel e salas comerciais, toma, por dois metros, o lugar do Mirante do Vale, no centro da cidade, como o maior prédio da capital paulista.
No primeiro pavimento do Platina 220, ficam as áreas comuns dos 80 apartamentos residenciais e do hotel, com 190 quartos. Ambos ocupam do segundo ao décimo andar da construção. Acima deles vêm as salas comerciais, do 11º ao 24º andar, e os espaços corporativos, do 25º ao 46º andar.
Segundo a Porte Engenharia e Urbanismo, construtora responsável pela execução do projeto, a ideia é que o local sirva como um polo econômico na zona leste da cidade, para descentralizar a demanda de empresas por um espaço em áreas centrais da capital.
A urbanista Aline Meira, que trabalha no projeto, diz que o lançamento é uma forma de democratizar o acesso a trabalho para moradores da região leste, cerca de 4,6 milhões de pessoas, segundo levantamento feito pela Prefeitura de São Paulo em 2021.
O edifício pode ser visto a partir da avenida Alcântara Machado, a três quilômetros do endereço. A área onde está localizado é majoritariamente residencial, com alguns comércios entre as casas. Há outros prédios no entorno, mas todos somem perto do Platina 220.
Olhando de frente, ele parece se inclinar de tão colossal. O interior tem revestimentos de alto padrão, em madeira, e decoração com carpete. Nos espaços de lazer, entre outras atrações, há academia, piscina e área para eventos.
Representantes da construtora não quiseram falar sobre valores de venda dos espaços, mas a reportagem apurou que os 80 apartamentos, com plantas de 35 m² a 70 m², devem ser comercializados por, no mínimo, R$ 700 mil cada um.
As salas comerciais têm opções de 26 m² a 49 m², e as lajes corporativas vão de 250 m² a 500 m².
Há 20 elevadores para atender moradores e visitantes. A subida do térreo ao último andar leva cerca de 45 segundos —e alguns zumbidos nos ouvidos. Para alcançar o topo do prédio, ainda há três lances de escada. De lá, há visão para todas as zonas da cidade.
Antes da entrega, os últimos ajustes ainda serão feitos, diz a construtora. Mesmo assim, ainda inacabado, o tamanho e a localização chamam a atenção de quem passa pela região e é comum ver pedestres parando para fotos.
A enfermeira Rosana Santos, que ia ao shopping Metrô Tatuapé, a poucos metros do prédio, disse ter tirado três fotos e gravado um vídeo, que logo foi enviado para vários grupos no WhatsApp. "O bicho é grande, né? E fizeram aqui, longe do centro. Fiquei boba", afirma.
Além do shopping, há um bar quase em frente ao Platina 220. Os funcionários do local dizem estar animados com a possibilidade de receber novos clientes e, assim, aumentar os ganhos.
O edifício Platina 220 faz parte do Eixo Platina, uma rede de edifícios que busca atrair pequenas e médias empresas, startups, coworkings, prestadores de serviços, centros de varejo, saúde, cultura e entretenimento para a zona leste de São Paulo.
A incorporadora Porte também foi a responsável pelo edifício Figueira Altos do Tatuapé, inaugurado em setembro de 2021. Ele fica a cerca de 1,6 quilômetro do Platina 220.
Com 50 andares e 168 metros de altura —apenas dois a menos do que o Mirante do Vale e quatro a menos que o Platina 220—, o Figueira Altos do Tatuapé é o prédio residencial mais alto da cidade.
Se a construção do Platina 220 leva uma obra digna do século 21 para a zona leste de São Paulo, ela também provoca uma distorção na região, segundo Valter Caldana, professor de arquitetura e urbanismo do Mackenzie.
Caldana explica que a zona leste é para o século 21 o que a zona sudoeste foi no século 20: o caminho do desenvolvimento econômico da cidade. Por isso, ele esperava que as construções também levassem em conta as necessidades atuais da população, o que, segundo ele, não está acontecendo.
"O ideal seria a ocupação da quadra, não do lote. Deveria haver mais unidades, mais espaços coletivos, sejam públicos ou privados, como comércios, serviços e órgãos públicos. Ou seja, conseguir liberar o chão da cidade para que as pessoas possam usufruir melhor. E esses prédios estão voltados para si mesmos. O uso misto do prédio acaba sendo para si mesmo", diz.
Para Caldana, essa "distorção acontece porque em vez de fazermos uma cidade melhor para mais gente, estamos fazendo a mesma cidade para o mesmo público". "O objetivo estratégico não está sendo atingido", diz ele, citando a região da avenida Rebouças, na zona oeste, como exemplo.
"No Tatuapé estão fazendo prédios finos e altos, e na Rebouças foram feitos prédios baixos e gordos, é a repetição de um modelo que se mostrou equivocado, mas agora em tamanho grande. É o modelo do século 20 com tamanho do século 21", analisa Caldana.
Segundo o professor, o Plano Diretor, que dá as diretrizes para o desenvolvimento e crescimento do município, facilita para a evolução do urbanismo, mas as obras não o estão seguindo como deveriam.
"O problema não é um, dois ou três prédios grandes, mas a mentalidade", conclui.
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