Início Distrito do Tatuapé se consolida como área nobre de São Paulo

Por Plínio Aguiar / ESPECIAL PARA O ESTADO

Tatuapé e Jardim Anália Franco são considerados os bairros nobres da zona leste, com um mercado imobiliário que oferece de unidades compactas a apartamentos de alto padrão. Neste perfil, um exemplo é o Condomínio Helen, que tem um duplex com 650 metros quadrados de área útil e que é vendido pela Porte Engenharia por R$ 9,1 milhões.

A ser entregue em julho de 2018, o empreendimento possui o total de 34 unidades, de 374 m² cada, com quatro dormitórios e cada morador possui seis vagas na garagem. Com um apartamento por andar, o metro quadrado da unidade padrão custa R$ 14 mil.

Cada apartamento possui ar condicionado quente e frio, banheira de imersão com jatos, elevadores com biometria, iluminação automatizada e sistema antiembaçante de espelho no banheiro, além de tratamento acústico nas lajes. O condomínio, por sua vez, oferece piscina coberta e descoberta, quadras, academia de ginástica e salão de festas.

De acordo com o diretor da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp), Reinaldo Fincatti, o valor que se paga para comprar um imóvel no Tatuapé pode ser comparado com outros bairros nobres da capital paulista. O preço médio de área útil nos últimos dois anos no Tatuapé foi de R$ 7.464,31. O valor é mais alto que bairros como Morumbi (R$ 6.534,25), Alphaville (R$ 6.072,83).

“Trata-se de uma região onde se pode ter qualidade de vida e infraestrutura melhores do que as outras áreas da zona leste”,  afirma o consultor corporativo da Porte, Sandro Prada.

Vista de edifícios e residências do bairro Jardim Anália Franco, na zona leste da cidade. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O valor médio registrado do m² de lançamento na região de janeiro a junho é de R$ 8.719,64, um aumento de R$ 1.088,069, na comparação com igual período do ano passado (R$ 7.631,58), de acordo com dados da Embraesp.

Além da infraestrutura, um outro fator pesa na escolha de quem opta por um imóvel na região. Segundo o professor de arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie Valter Caldana, o distrito possui habitantes fiéis. “Os moradores têm orgulho de morarem ali. Terceira ou quarta geração que passam por ascensão econômica, mas não querem sair da região”, diz. “A zona leste é a bola da vez”, afirma o professor.

A diretora de recursos humanos Silene Rodrigues, de 50 anos, se encaixa no perfil citado por Caldana. Os bisavós portugueses chegaram ao País e se identificaram com o bairro, instalando ali a sua residência. Hoje, Silene é terceira geração nascida e criada no bairro. E, ao que tudo indica, não há perspectiva de essa linha ser alterada. “Eu não saio daqui de jeito nenhum”, afirma.

Silene mora atualmente em um apartamento de 102 m² e dois dormitórios que foi adquirido por R$ 720 mil. “É um ótimo lugar para morar. Eu cresci aqui, então tenho muitas lembranças”, conta. “Quando eu caminho pelas ruas do bairro, eu lembro de quando era criança.”

Para Silene, o bairro possui infraestrutura suficiente. Por infraestrutura pode-se considerar duas estações do Metrô, duas linhas de trem da CPTM, além de várias estações de ônibus. Possui hospitais de qualidade, shoppings, supermercados, escolas e universidades e áreas verdes como o s parques do Piqueri, dos Trabalhadores e Anália Franco. O distrito está há poucos minutos da Marginal Tietê, importante via de acesso da cidade.

“A única coisa que me faz sair é o meu trabalho, localizado na Avenida Berrini, o resto eu faço tudo por aqui”, afirma Silene.

Silene Rodrigues comprou um apartamento no bairro do Tatuapé. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
O consultor da Porte afirma que a região dispõe de terrenos passíveis de novas incorporações. “Ainda existe uma bela área para ser desenvolvida, para ser trabalhada”, afirma Prada.

Esse espaço disponível tem sido aproveitado. Desde o início de 2015, pelo menos 17 empreendimentos foram lançados no distrito do Tatuapé, de acordo com a Embraesp. Somaram 2.605 unidades. Em 2017, do total (144) dos apartamentos oferecidos ao mercado, 72 unidades são de dois dormitórios e 72, de três.

A Even Incorporadora, por exemplo, lançou no último mês de abril o Bio Tatuapé. Serão 194 unidades de dois e três dormitórios, de 62 m², 64 m² e 89 m². O preço é de R$ 9.500/m². O prédio possui salão de festas, piscina infantil e adulto, playground, espaço fitness e churrasqueira.

A mesma incorporadora anunciou, no ano passado, o lançamento do Mirada Tatuapé, que terá unidades mais compactas, de 48 m² a 61 m². Serão, ao todo, 251 unidades, em duas torres, com dois ou três dormitórios. O empreendimento possui salão de festas e de jogos, espaço fitness, piscina, playground e bicicletário. O metro quadrado custa R$ 7.500.

Outra empresa que investe na região é a You, Inc. Em abril, a empresa anunciou o início das vendas do You, Tatuapé Boulevard, que terá 187 unidades com metragens de 49 m² a 69 m², de dois ou três dormitórios. O conjunto oferece salões de festas e gourmet, sky lounge, playground para crianças, piscina e churrasqueira com forno de pizza. O valor médio do metro quadrado custa R$ 8.800.

Uma particularidade desse empreendimento é que 43 unidades serão destinadas à residência temporária – serão alugadas por um curto período. Seus ocupantes terão uma entrada própria com portaria independente, além de lavanderia e sala de ginástica exclusivas.

Segundo o diretor comercial da You, Rodrigo Guedes, o Tatuapé já é consolidado, o que facilita as vendas. “O bairro lidera o nosso ranking para compra de imóvel na zona leste, então resolvemos construir esse empreendimento aqui.”

Com apartamentos mais compactos, Guedes conta que a ideia era oferecer “unidades interessantes” com preço acessível. “Nós fizemos um produto com menos área, mas oferecendo qualidade para que o cliente que não conseguia uma oferta no bairro, conseguisse conosco”, afirma.

Com entrega prevista para o próximo mês de outubro, o Varanda Tatuapé foi construído pela Cyrela com 240 unidades, sendo que destas, 173 já foram vendidas, segundo a empresa. Os apartamentos possuem 67 m² e 102 m² – o preço do metro quadrado custa entre R$ 8.630 até R$ 10.580.

As unidades são de dois e três quartos. O condomínio oferece salão de festas e gourmet, espaço para fitness e ioga, piscina, lava jato e espaço para animais de estimação. Segundo a incorporadora, o empreendimento atende dois perfis: aqueles que buscam morar com fácil acesso às principais vias e ampla oferta de comércio e clientes que buscam viver no tradicional bairro pela elegância e qualidade de vida.

A Porte Engenharia e Urbanismo entregou em junho do ano passado o Composite des Arts, um empreendimento de alto padrão no bairro Anália Franco. São estúdios equipados com cozinha, banheiro e varanda de 55m² e 77m².

Com uma torre, o prédio possui 200 unidades mais oito duplex. Segundo a companhia, as unidades foram entregues com fechadura eletromecânica, painel de automação instalado e tratamento acústico nas lajes para redução de ruídos. O m² custa de R$ 13 mil à 14 mil.

Berrini da zona leste. Concebido pela Porte Engenharia e Urbanismo, o Eixo Platina é um megaempreendimento que contempla conjuntos corporativos, comerciais, residenciais e hotel, que serão erguidos em uma faixa paralela à Avenida Radial Leste. A empresa já apelidou o projeto de Berrini da zona leste.

“O Eixo Platina tem como ideia garantir a auto sustentabilidade, fortalecendo o crescimento do Tatuapé – como grande força comercial da região”, afirma o consultor corporativo da Porte, Sandro Prada.
Ao todo, serão 310 mil metros quadrados de área construída. Todos os terrenos já foram adquiridos e os demais projetos estão em aprovação, segundo a construtora.
A Berrini da zona leste irá ocupar 50 mil metros quadrados de terrenos com os oito empreendimentos, mas como não havia uma única área deste tamanho, a ideia, de acordo com a construtora, foi fragmentar em várias zonas posicionadas paralelamente à Radial Leste.
Divisão. De acordo com a empresa, serão 74.000 m² destinados para a área corporativa; 50.000 m² para a comercial; 4.500 m² para o hotel; 31.000 m² de espaço residencial e 17.000 m² para lojas nos térreos dos edifícios. A empresa afirma que o projeto proporcionará a criação de 20 mil postos de trabalho.
O empreendimento já possui dois edifícios lançados em abril e maio, respectivamente – os outros seis estão em aprovação pela Prefeitura. O investimento previsto será de R$ 1,5 bilhão. “O polo ficará pronto nos próximos cinco anos”, diz Prada.
O segundo edifício lançado irá abrigar apartamentos, salas comerciais e um hotel.
Na parte residencial, as unidades terão 35 m² à 57 m², a metragem das salas comerciais é de 26 m² à 49 m². As lajes corporativas terão 120 m² à 248 m², podendo chegar até 496 m².
Em relação à hotelaria, o edifício irá oferecer unidades – ainda não foi definida a quantidade –, que serão decoradas pelo escritório Triptyque.
A construtora não divulgou informações a respeito do segundo prédio lançado.
 
Indústria. Nas décadas iniciais do século 20 surgiram as primeiras indústrias no Tatuapé, bairro situado na zona leste. As olarias eram a maior parte, em razão de o solo ser rico em argila de boa qualidade. As indústrias se expandiram até meados da década de 1970, quando começou um êxodo das empresas para cidades do interior do Estado. A saída resultou em oportunidades para o mercado imobiliário.
Professor de arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Valter Caldana conta que políticas de incentivo fiscal, estímulo ao investimento e à infraestrutura no início dos anos 2000 fizeram com que a zona leste crescesse e, aos poucos, se consolidasse.
“Houve saturação de investimentos públicos e privados na zona sul, que atingiu patamar bem alto em relação às outras zonas, fazendo com que essa tomada de aplicação se estendesse também para a (zona) leste.”
Como consequência, houve um boom de estabelecimentos e empregos no setor de comércio e serviço no distrito. De acordo com a Prefeitura, eram 1.379 estabelecimentos de comércio, que geraram 8.665 empregos nos anos 2000.
No mesmo período, 1.594 estabelecimentos de serviços deram origem a 19.904 postos de trabalho. Passados 14 anos, 2.082 comércios geraram 17.565 empregos. Em relação ao serviço, 3.391 estabelecimentos criaram 50.090 trabalhos.
A geração de empregos e a infraestrutura fez com que os números de moradores também aumentassem. No início do século, 79.381 pessoas moravam no bairro. Segundo o último censo da Prefeitura (2010), o distrito do Tatuapé é a casa de 91.672 pessoas.

Fonte: Estadão

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