Início “Bike Sampa” ainda repercute

Na reunião do Conseg Tatuapé, realizada na segunda-feira, 18, o projeto "Bike Sampa" esteve entre os temas debatidos. O empresário Jailson dos Santos, por exemplo, afirmou não ser contra o plano de transporte sustentável, porém revelou não concordar com a maneira como o programa está sendo concebido.

Para Santos, a estrutura instalada na Rua Euclides Pacheco, próximo à Rua Serra de Japi, atrapalha não só o trânsito, por ocupar uma faixa da via, mas também prejudica, por enquanto, a segurança dos motoristas. "Isso porque a base de apoio para as bicicletas não está amparada por uma sinalização de solo ou alguma placa informativa que avise o condutor do veículo com antecedência sobre a estrutura", completou.

TRANSTORNOS

Com relação à chegada do "Bike Sampa" ao Tatuapé, Eduardo Scatena, eleito pelos moradores como membro do Conselho Municipal Participativo, na Subprefeitura Mooca, também disse ser favorável, contudo criticou o fato de algumas estruturas bloquearem a visão de pontos comerciais ou de gerarem transtornos aos motoristas. "Na Praça Silvio Romero, por exemplo, porque a Subprefeitura Mooca ou o Itaú não aumentaram o recuo da área para que a via de trânsito ficasse livre?", questionou. Scatena chegou a perguntar para os representantes da subprefeitura e da CET, presentes à reunião, se eles tinham alguma informação, no entanto, os dois revelaram desconhecer o assunto e que iriam buscar respostas para depois levá-las aos moradores.

OUTROS LOCAIS

Além desses locais, o projeto vem sendo implantado em outros endereços, como as ruas Demétrio Ribeiro, na altura do número 570; Antonio Camardo, na altura do número 700; e Diamante Preto, na altura do número 160. Para o empresário que está abrindo uma imobiliária na Rua Diamante Preto, Sérgio Longano, é um absurdo que a Prefeitura tenha cedido o espaço para uma empresa particular e não tenha comunicado ninguém sobre a implantação do projeto.

RECLAMAÇÃO

Longano afirmou ter que levar um cofre para o seu comércio, porém não sabe o que fazer, pois é muito pesado para carregar e não poderá parar na porta para descarregar. "O mais estranho é que a alguns metros existe uma área livre sem comércios ou casas e poderia ser utilizada. Agora, estou encaminhando uma reclamação para a Prefeitura e à ouvidoria do Itaú", avisou. Para obter mais informações sobre a implantação do "Bike Sampa", a reportagem desta Gazeta procurou as assessorias da CET e do Itaú, porém, até o fechamento desta edição, as duas ainda não haviam encaminhado respostas sobre o assunto.

Diversidade de opiniões

Com o intuito de buscar uma diversidade de opiniões, esta Gazeta conversou com especialistas em urbanismo, arquitetos e também usuários de ciclovias e outros sistemas voltados ao transporte utilizando-se bicicletas.

PROJETO SENSACIONAL

Evandro Campos Accorsi, que é ciclista e maratonista, acha o projeto sensacional. Sua principal preocupação está voltada à segurança das pessoas, seja pelo uso do capacete e pelo cuidado ao circular entre carros, caminhões, ônibus e motos.

Accorsi espera que as ciclovias sejam ampliadas e interligadas, pois, dessa maneira, as pessoas não precisarão se arriscar e poderão utilizar a bicicleta de uma forma que aumente a qualidade de vida delas. Para isso, espera por uma educação e conscientização maior dos motoristas. "Afinal, a troca dos carros pelas bikes será o futuro", apostou.

TOPOGRAFIA PLANA

Para o arquiteto Marcel Branco, a segurança do ciclista é importante e, para oferecer a comodidade a quem anda de bicicleta, a Prefeitura deveria colaborar com a educação de ciclistas e motoristas. "Tanto um como o outro ainda estão desacostumados a utilizar o mesmo espaço. Então, para diminuir o risco de acidente seria apropriado dar ao ciclista um acesso a mapas e sugestões de trajetos", sugeriu.

Branco afirmou que o Tatuapé possui estrutura física boa e topografia plana. Segundo ele, a forma ortogonal da região permite cruzamentos mais amplos e seguros e as ruas largas permitem um fluxo adequado de veículos. "Apesar disso, a princípio os ciclistas sem experiência deverão evitar as ruas de maior movimento, porém em algum momento eles terão de utilizá-las", previu.

No caso de vias como Cantagalo e Serra de Bragança, por exemplo, em que além do tráfego pesado há carros estacionados dos dois lados, o arquiteto comentou que ciclistas e motoristas terão de aprender a conviver de forma pacífica. "O ideal seria deixar uma das faixas de trânsito somente para as bicicletas, contudo sabemos o quanto o tema é polêmico, pois, atualmente, os motoristas reclamam por terem perdido para o "Bike Sampa" um espaço capaz de ocupar de dois a três carros", ponderou Branco.

O arquiteto disse acreditar que o projeto possa ser melhor discutido, antes de sua implementação. "A Prefeitura acelerou a colocação de ciclofaixas, como a da Avenida Vereador Abel Ferreira, entretanto ainda falta mais informação às pessoas. Mesmo assim, é louvável destacar a iniciativa de trazer o projeto para o Tatuapé", finalizou.

POUCA ORIENTAÇÃO

Para Manoel Correia de Almeida, arquiteto, vice-presidente da Aleasp (Associação Leste dos Profissionais de Engenharia e Arquitetura da cidade de São Paulo) e ciclista há 40 anos, o Tatuapé tem ruas estreitas. Conforme ele, por terem duas mãos, em sua maioria, as ruas do bairro não comportam um espaço para bicicletas. "Poucas vias possuem pistas largas e planas como a Avenida Vereador Abel Ferreira, por exemplo", apontou.

Com relação à topografia, Almeida relatou que o Tatuapé tem ruas íngremes e locais com declives acentuados. "Se as bicicletas não tiverem marchas, a dificuldade de circular pelo bairro será maior", explicou. Conforme o vice presidente do órgão, o "Bike Sampa" deveria ter sido apresentado junto com um projeto de alargamento de calçadas e uma pista de mão única para as bikes. "Mas como o trânsito da região já é travado, imagine se metade de uma pista for reservada para o ciclista", indagou.

Como o plano ideal não irá existir, afirmou o arquiteto, os ciclistas irão correr um grande risco se alugarem a bicicleta e simplesmente saírem andando pelo meio do trânsito. "Apesar da ideia ser boa, por ser um meio de transporte sustentável, deveria se ter pensado em um prazo maior antes da implantação do projeto. Agora, com pouca orientação, muitas pessoas poderão incorrer no erro de sofrer ou causar acidentes desnecessários", avisou.

CICLISTAS AO PERIGO

O engenheiro e urbanista Vagner Landi disse que não se pode simplesmente impor um projeto à população, pintando o solo das ruas do bairro ou criando as ciclofaixas sem antes proporcionar uma estrutura para que o trabalhador estacione sua bike para ir ou vir do trabalho para casa. "Quanto ao relevo do bairro, não vejo problemas. Só precisamos estar conscientes de que utilizar a bicicleta como passatempo ou para exercícios é uma coisa, mas usá-la para trabalho é outra bem diferente", avaliou. Para o engenheiro, sonhar é possível, porém os esforços entre poder público e população terão que ser conciliados com educação e respeito entre bicicletas, automóveis e pedestres.

Landi aponta que um dos grandes problemas das administrações municipais, nos últimos 30 anos, é o de satisfazer vontades de grupos econômicos ou políticos em detrimento da população e de associações de bairro. Não há como apresentar um projeto sem infraestrutura urbana, placas e semáforos direcionados para atender aos ciclistas. "Inclusive o Tatuapé, atualmente, vive problemas de congestionamentos, contudo não recebe planos voltados à melhoria no tráfego. Sendo assim, não podemos simplesmente instalar estações de bikes e lançar os ciclistas ao perigo", reclamou.

O urbanista lembrou que é preciso investir em projetos que conciliem bikes, automóveis, motos e ônibus, focando principalmente no meio de transporte.

"E o Tatuapé tem potencial, pois está entre os bairros mais valorizados, juntamente com Vila Nova Conceição e Campo Belo", argumentou.

Para o engenheiro, os benefícios do "Bike Sampa" seriam enormes, mas traria um problema para as ruas dos bairro ao tomar espaço para as ciclovias. "Pelo menos um lado da via não poderia ter estacionamento e isso prejudicaria a circulação de automóveis. A qualidade de vida seria melhorada, mas muitos comerciantes também sofreriam com as mudanças", concluiu.

BICICLETA DA FORMA CERTA

O ciclista e empresário Ricardo Stipkovic afirmou que para tudo existe um começo e, com isso, é preciso iniciar uma nova cultura de transporte urbano.

Neste sentido, há a necessidade de que as pessoas tenham consciência de usar o capacete e não se aventurarem pelo bairro. É necessário usar a bicicleta da forma certa, respeitando as leis de trânsito. Só assim todos serão respeitados como ciclistas. Segundo Stipkovic, para que o projeto funcione é indispensável criar uma lei que incentivem o comércio de forma geral a instalar bicicletários, isso sim iria dar um grande impulso para as pessoas usarem as bicicletas. Outro fator inibidor é o roubo, pois quanto mais a pessoa usa a bicicleta mais ela quer ter uma de qualidade, tornando-se um risco. "Para funcionar cem por cento terão de ser mudados os costumes e a cultura, tendo educação, consciência e informação. Com isso, iremos evoluir e ter a noção de que não temos a necessidade de usar o carro para tudo", finalizou.