Foi durante a sexta- feira, 8 de fevereiro, quando muita gente já estava com a cabeça no Carnaval. Em reunião desde as 10 da manhã até as 3 da tarde, o presidente da construtora Porte, Marco Antonio Melro, nem pensou nas alegorias que a escola de samba Acadêmicos do Tatuapé colocaria no Sambódromo para abrir os desfiles do Grupo Especial. Na sede da empresa que criou em 1986 e que fica justamente no Tatuapé, Melro explicou sua visão de futuro para o bairro a uma arquiteta que representa no Brasil um prestigiado escritório nova-iorquino. Mostrou imagens de parques hoje mal aproveitados, de avenidas que separam áreas ricas de outras miseráveis numa mesma região. Sempre questionador, mas com a clareza de quem conhece a comunidade á qual pertence, Melro apresentou as bases de um plano que poderá redefinir a cara do bairro (e da vizinhança) nos próximos anos.

A reunião terminou com uma esperança – e não foi a de que os Acadêmicos do Tatuapé levassem o título do Carnaval de 2013. A esperança é que, com a ajuda de uma consultoria internacional, a Porte faça mais do que erguer prédios. Faça, sim, diferença na vida da cidade, especialmente na Zona Leste.

Foi na região compreendida entre o Tatuapé, a Mooca e o cobiçado Jardim Anália Franco que a construtora Porte entregou, até agora, 1.476 apartamentos em 34 edifícios de alto padrão, além de ter construído urna unidade do Hospital São Luiz. Para o presidente da empresa, chegou a hora de se dedicar a projetos de desenvolvimento urbano. "O hospital nasceu não só como ideia de investimento", diz Melro. "Nosso pensamento ali já era de planejar a região de modo a valorizar a qualidade de vida dos moradores."

"Assim como foi o hospital, o polo corporativo é fundamental para desenvolver a região e manter aqui quem hoje se desloca para trabalhar em outras áreas da cidade" – Marco Antonio Melro

No início dos anos 1980, bem antes de colocar sua marca na cidade com os arranha-céus que hoje circundam o shopping Anália Franco, Melro edificava sobradinhos no Belém. Hoje com 51 anos, casado e pai de três filhos, ele é o homem por trás de edifícios como o vistoso Josephine, que soma 40 andares, e do monumental Sainte Claire, com apartamentos de 625 metros quadrados em que cada uma das cinco suítes conta com hidromassagem. Neste momento, a Porte tem dez torres em construção, quatro delas a ser entregues ainda em 2013. Mas seus planos são muito mais ambiciosos. Com os residenciais de alto padrão (termo que Melro considera "esquisito" e só usa na falta de outro que defina melhor o perfil de seus empreendimentos), ele pretende entregar em 2014 um hotel (da bandeira Bristol) e 50.000 metros quadrados de lajes corporativas. "Contamos com três estações de metrô: Belém, Tatuapé e Carrão. Até 2017, ficará pronta a Anália Franco", afirma. "Ter um polo corporativo é fundamental para desenvolver a região e manter por aqui parte da mão de obra que hoje se desloca para outras áreas da cidade."

O sonho de Melro é desenvolver os bairros centrais da Zona Leste dando um passo além do que fizeram no passado visionários como Horácio Sabino (que loteou uma parte considerável dos Jardins e da região onde hoje está o Jockey Club de São Paulo) e Yojiro Takaoka, o criador de Alphaville. Sua ideia é aproveitar os exemplos de quem ajudou a construir a cidade, mas sem incorrer nos eventuais erros cometidos, até por falta de perspectiva mais ampla do que a Grande São Paulo se tomaria.

"Edifícios não são tudo", diz Melro. "É preciso oferecer serviços, lazer, consumo." O Hospital São Luiz gera 1.500 empregos diretos. De olho no futuro, ele pensa também num parque de 280.000 metros quadrados, hoje murado, que é usado apenas para caminhadas por moradores do Jardim Anália Franco. E vislumbra um futuro para a imensa garagem de ônibus que pode ser incorporada ao parque. "Poderia ser transformada em centro de exposições, em museu", diz, com ar sonhador.

Enquanto isso não se torna realidade, a Porte segue oferecendo o que de melhor pode fazer pelos bairros onde atua: mansões verticais cada vez mais arrojadas. Seus prédios chamam a atenção principalmente pelo tamanho, mas também pela solidez da arquitetura e pelo requinte do acabamento. "Os espanhóis, italianos e portugueses que se instalaram por aqui sempre tiveram muito apreço por suas residências", afirma. "Eles construíram casas grandes, confortáveis." Até que a falta de segurança tornou esse tipo de moradia vulnerável. Os prédios que começaram a ser erguidos na segunda metade dos anos 1980 atendiam à principal demanda dos endinheirados da Zona Leste, que era proteger a família.

Os edifícios da Porte, com muitas suítes, salões, varandas e vagas na garagem, não poderiam prescindir do tipo de acabamento com o qual esse público se acostumara: muito mármore, granito, vidro, cerâmica. Com o tempo, o gosto dos compradores foi se sofisticando. À necessidade de automação residencial, com controles de iluminação e temperatura, somaram-se as exigências visuais. Depois das fachadas neoclássicas e das estatuetas e fontes dos condomínios com nomes inspirados em castelos franceses, agora é a vez de a arquitetura contemporânea dar o tom dos lançamentos. É o caso do residencial Itapeti, que traz a assinatura dos arquitetos Könisberger e Vannucchi. "Deve se tornar um marco para nós e para São Paulo", diz Melro. O prédio terá concreto armado em três cores distintas e um detalhe escultural de aço cortein, material usado no hotel Unique e no Instituto Tomie Ohtake. À sua maneira, Melro está transformando a Zona Leste de São Paulo numa das áreas mais elegantes da cidade.

Fonte: Revista Época São Paulo