Daniel Vasques
DE SÃO PAULO

"Sinto-me livre ao saber que vou morar num arranha-céu. É como se eu fosse a dona do mundo." Assim a ex-professora Ana Lucia Levi Moraes, 50, descreve a sensação de ter comprado um apartamento em um edifício de 32 andares no Jardim Anália Franco (zona leste de São Paulo).

Feliz com a compra, ela só lamenta ter chegado quando as unidades nos andares mais altos já estavam vendidas -restou a opção de comprar no nono andar. "Mas daqui a três ou quatro anos pretendo comprar um apartamento em um dos últimos andares, pois sou apaixonada por altura."

Para isso, ela terá de ser rápida, pois imóveis desse tipo costumam ser arrematados primeiro. "Andares mais altos são sempre mais procurados e vendem rapidamente", afirma Marco Antonio Melro, sócio da construtora Porte.

Para atrair clientes como Ana Lucia, construtoras e incorporadoras têm apostado cada vez mais em prédios residenciais com grande número de andares.

Levantamento da imobiliária Lopes, feito com exclusividade para a Folha, mostra que os 11 empreendimentos com maior número de andares lançados na cidade de São Paulo de setembro de 2009 a agosto de 2012 são residenciais.

Os campeões em altura continuam sendo edifícios comerciais, como o Mirante do Vale, mas o levantamento aponta uma tendência de "esticamento" entre os lançamentos residenciais.

Maiores na altura, mas também no preço, boa parte desses arranha-céus são de alto padrão -não é difícil encontrar valores que ultrapassam R$ 1 milhão.

Além da vista e da sensação de ter um bem facilmente reconhecido a grandes distâncias, compradores indicam como vantagem o fato de o barulho da rua quase não ser ouvido do apartamento.

TOPO GERA DISPUTA, APESAR DE PREÇO ALTO

Valor pode subir ainda mais se o prédio for o único maior da região

Menor ruído está entre as vantagens desse tipo de imóvel; para urbanista, ele bloqueia a vista em volta de São Paulo.

Quem procura um apartamento em um prédio com mais de 30 andares e quer morar no topo precisa correr para garantir a compra, mesmo que as cifras sejam altas.

O empresário e morador de uma cobertura Jorge Alfieri, 39, comprou dois apartamentos de alto padrão assim que eles foram lançados: um no 38º andar do empreendimento Josephine e outro no 32º do Camille Claudel, ambos no Jardim Anália Franco, na zona leste. "Sei que os mais altos são mais disputados."

Ele planeja se mudar para o Josephine, com 128,9 metros de altura, e vender os demais. "Um dos prazeres que tenho é apontar o edifício e falar para alguém: ‘Olha, é ali que eu moro’. Você se sente singular."

Ainda que os residenciais despertem esse tipo de desejo, são os comerciais que figuram no topo da lista dos mais altos. Para ter um imóvel em um andar mais alto, é preciso desembolsar mais, lembra Eduardo Della Manna, diretor de legislação urbana do Secovi-SP (sindicato de habitação).

Segundo ele, se um empreendimento é o único muito alto em uma região, o preço do seu último andar tende a variar ainda mais. "Mesmo sendo mais caros, os apartamentos mais altos vendem mais e mais rápido, tanto pela vista quanto pelo status que representam", afirma Celso Amaral, diretor corporativo da Geoimovel, empresa de pesquisas imobiliárias.

"A variação de preço oscila entre 15% a 20% se comparamos os primeiros andares e os últimos", completa. Marco Antonio Melro, um dos sócios da construtora Porte, que comercializa empreendimentos desse tipo, rebate que, em geral, a variação é de 5% a 6% em um dos últimos andares em relação ao terceiro ou ao quinto.

No Josephine, a diferença de preço entre um apartamento no quinto andar e outro no 27º chega a 8%. Para usufruir da vista de um ponto mais alto, é preciso desembolsar R$ 240 mil a mais.

RUÍDO

A vantagem de morar em um andar muito alto, que é o menor nível de ruído da vizinhança mais próxima, não significa silêncio total.

"O que acontece é que nos mais altos não se ouve muito barulho de crianças brincando ou de pessoas conversando, como ocorre mais perto do térreo. Mas existe um barulho difuso, originado do sistema viário. Fica aquele ‘zum’ característico," diz Della Manna, do Secovi.

"A cobertura é como uma aristocracia moderna e exclusiva", analisa Sérgio Wajman, professor de psicologia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica). "É uma questão de status, pois coloca o morador em um nível em que ele se considera melhor que os outros, algo semelhante com o que ocorre em relação a carro ou a celular."

EDIFÍCIOS COMERCIAIS FIGURAM NO TOPO DOS MAIS ALTOS DA CIDADE DE SÃO PAULO

Os lançamentos na cidade de São Paulo com maior número de andares são residenciais, mas os campões em altura ainda são os empreendimentos comerciais.

O edifício mais alto da cidade é o Mirante do Vale (região central), concluído em 1961, com 51 andares e 170 metros de altura.

Em seguida, vêm outros dois prédios da região central: o Edifício Itália, com 165 metros, e o Altino Arantes (conhecido como prédio do Banespa), com 161 metros, segundo levantamento do Skycraper Center, banco de dados que reúne informações sobre os edifícios mais altos do mundo.

Após o prédio do Banespa, figura a Torre Norte, no Centro Empresarial Nações Unidas, com 158 metros. Com seis centímetros a menos, segundo levantamento do Emporis, banco de dados que disponibiliza informações sobre construções em 190 países, surgem os primeiros residenciais. São os edifícios do conjunto Parque Cidade Jardim, na zona oeste.

Esses cartões-postais da cidade devem ser ultrapassados pela Torre Sigma e seus 189 metros. O edifício comercial ficará na zona sul de São Paulo e tem previsão de conclusão para o ano que vem, segundo o Emporis.

GIGANTES DE HONG KONG

São Paulo tem 63 arranha-céus e divide com a cidade chinesa Chongqing a 25ª colocação entre as cidades com a maior quantidade desse tipo de empreendimento, segundo levantamento do Emporis.

O portal considera como arranha-céu uma construção regular com vários andares e com mais de cem metros.

Hong Kong, a primeira colocada, tem um número muito maior de construções desse tipo: 1.224 edifícios com mais de cem metros, mais do que o dobro do número encontrado em Nova York, que vem em seguida com 569 edifícios. Tóquio é a terceira, com 344 arranha-céus. Nenhum dos 63 edifícios paulistanos com mais de cem metros figura entre os mais altos do mundo. O Mirante do Vale, por exemplo, é o 15º maior da América do Sul.

Entre os países, nenhum avança mais rapidamente que a China -dos 20 edifícios mais altos do mundo em construção, nove estão no país, segundo a CTBUH (entidade americana que reúne arquitetos, construtores etc.).

Até o fim de 2011, havia 61 construções com mais de 300 metros no mundo, segundo o CTBUH.

OS PRÉDIOS MAIS ALTOS DE SÃO PAULO

Empreendimentos com mais de 30 andares lançados desde 2009 são todos residenciais e estão em três regiões.

Os empreendimentos residenciais com mais de 30 andares em São Paulo não possuem características que os assemelhem.

Espalhados por quatro regiões da cidade -zonas leste, oeste, sul e centro-, esses edifícios, considerando os lançados a partir de setembro de 2009, contam com espaço privativo que varia de 54 metros quadrados a 1.050 metros quadrados. Os preços também variam muito e podem chegar a R$ 22 milhões no caso de uma cobertura tríplex, segundo dados da Geoimovel.

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