A sala de degustação de vinhos no hall do prédio – ao lado da adega climatizada – foi um dos luxos que reafirmaram a fidelidade do comerciante Marcio (nome fictício) à zona leste de São Paulo. Ele é um dos 30 proprietários que desembolsaram alguns milhões para morar no empreendimento mais caro – e um dos mais luxuosos – desse lado da cidade, no Jardim Anália Franco. O bairro agora é retratado até na ficção, pelo estilista Jacques Leclair, na novela Ti-ti-ti.
Em alguns diálogos do folhetim da Globo, o estilista comemora o fato de morar e atender as clientes por ali – entusiasmo visto na vida real. Entregue no mês passado, um apartamento no Residencial Sainte Claire – com nove vagas de garagem, cinco suítes e 625 metros quadrados de área útil – não sai por menos de R$ 6 milhões. O metro quadrado custa mais de R$ 9,5 mil, relação similar às das áreas mais tradicionais de São Paulo.
Todos os apartamentos foram vendidos antes mesmo de o primeiro tijolo ser empilhado – e ainda ficou gente na fila. "Nasci no Tatuapé e não mudaria", diz Marcio. "A região tem boas opções de serviços, com redes de supermercado, shoppings, hospitais de qualidade. E a cada dia cresce ainda mais."
Um ex-jogador do Corinthians, cuja sede fica no Tatuapé, chegou a visitar empreendimentos no Pacaembu, mas ficou no bairro. "Minha vida está aqui, tenho tudo por perto. E olha esse prédio, parece um clube", diz ele, que, aos 43 anos, é agente de jogadores e também prefere não ser identificado.
Perfil. Segundo profissionais do mercado imobiliário, ambos resumem um pouco do perfil dos moradores de alto padrão da zona leste. Têm ligações afetivas com a região, trabalham nas proximidades e, com dinheiro, não abrem mão de luxo e exclusividade. "Ele não quer largar suas origens, tem um certo bairrismo com uma fundamentação maior que o bairrista da zona sul", explica Luiz Paulo Pompeia, da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp).
"A zona leste é a região com maior número de moradores de São Paulo e muitos comerciantes de sucesso dos bairros procuram ir para o Anália Franco", explica a consultora imobiliária Angela Ruiz, com 35 anos de experiência na região. "O bairro tem uma estrutura maravilhosa. E é uma ostentação morar lá – muita gente busca isso."
Apesar de trabalhar no Cambuci, na região central, o industrial Antonio não abandona o Anália Franco. "Sou nascido e criado na Vila Carrão, aqui na região. E eu nunca saí mais de um quilômetro, nunca tive vontade", diz ele, que acaba de comprar um apartamento de 425 m² . A pouco meses da entrega da obra, o apartamento é vendido por R$ 3,8 milhões.
Luxo. A fidelidade às raízes é preponderante para o sucesso do Tatuapé e do Anália Franco, mas os investidores perceberam que para agradar é preciso mais. "Temos de investir muito em tecnologia e acabamento. No Sainte Claire, são mais de 350 m² de mármore", diz Sílvio Vasco, gerente comercial da Porte Construtora, responsável pela obra.
No prédio, além de uma área de lazer que vai de squash a sala de música, uma dezena de estátuas, "feitas sob encomenda", e três fontes dão o toque especial à torre no estilo neoclássico.
A Even, uma das gigantes do setor de construção, lançou seu primeiro projeto no Anália Franco em 2007. Agora, lança mais um, com unidades de 50 a 100 m², e valor de R$ 7,5 mil oe m²t.
"O público de alto padrão de lá é mais exigente. Gosta do valor agregado", diz o diretor de incorporações, João Azevedo. "Em toda a região leste o sonho é morar ali, mas é caro. É o Jardins de lá e só mora quem pode."